Causou comoção na França a denúncia sobre os malefícios que o uso intensivo de agrotóxicos nos vinhedos pode causar aos habitantes das proximidades dos parreirais. A notícia foi divulgada no programa "Cash Investigation", do canal de televisão France 2, apresentado pela jornalista Elise Lucet, no dia 2 de fevereiro.
Segundo a reportagem as pessoas estão expostas pelo ar, água e alimentos a pesticidas potencialmente perigosos à saúde. O foco do programa foi a realização de uma pesquisa, patrocinada pela produção da TV, utilizando como amostras mechas de cabelos de 20 crianças que frequentam escolas e habitam nas proximidades dos vinhedos, no departamento de Gironde, onde está situada a região vinícola cujo centro é Bordeaux. Segundo a administração desse departamento há 132 escolas em áreas consideradas sensíveis, em razão da proximidade com locais onde são aplicados pesticidas.
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Cartaz do coletivo Generations Futures |
O programa também mostrou um mapa por departamento indicando a quantidade de herbicidas, fungicidas e inseticidas anualmente vendidos e identificando quais mais utilizados. Em toda a França, entre 2008 e 2013 foram consumidos anualmente cerca de 65 mil toneladas de pesticidas puros, considerados perigosos ou potencialmente perigosos para a saúde humana, indicou a reportagem. Os departamentos que estão no topo da lista do consumo são Gironde, Marne e Loire Atlantique.
Segundo a reportagem, nesses três departamentos a lista de agrotóxicos utilizados inclui 71 produtos que são julgados perigosos ou potencialmente perigosos pela Agência Americana de Proteção Ambiental, pela Comissão Européia, e pelo Centro Nacional de Pesquisa sobre o Câncer da França, ligado à Organização Mundial da Saúde.
Contraditando o programa televisivo, o jornal parisiense Le Point argumentou que o relatório utilizado indica também que 97% dos alimentos produzidos na França não contém resíduos que ultrapassam os limites autorizados. Citado pelo jornal, o presidente do Conselho Interprofissional do Vinho de Bordeaux e presidente da Confederação Nacional de Vinhos da França, Bernard Farges, admitiu que o problema existe, que a diminuição dos produtos fitossanitários e pesticidas é uma grande preocupação do mundo vitícola e que o desenvolvimento de variedades vinícolas que necessitem pouco ou nenhum tratamento (em experimentação na Alemanha, Suíça e Itália) é um dos caminhos a seguir.
Em Bordeaux, no dia 14 de fevereiro, ocorreu uma "marcha branca", reunindo centenas de pessoas, com o objetivo de alertar a população em relação aos perigos dos pesticidas. Foi organizada pela Confederação de Agricultores e vários coletivos regionais, como "Gerações Futuras" e "Fito-Vítimas".