27 de mar. de 2011

À ESPERA DO PRIMEIRO FRIO DO INVERNO

O vinho por métodos rústicos 
A vindima há muito já terminou para as variedades de uvas destinadas ao vinho de mesa. Em centenas de porões, galpões, cantos de garagens, em zonas rurais ou até em bairros de áreas urbanas, o vinho que já sofreu a primeira fermentação e já foi separado da borra há semanas, termina a segunda fermentação ou até já descansa, depois de trasfegado, em pequenos tanques, tonéis ou outros vasilhames improvisados. 

É o vinho caseiro, à espera dos primeiros frios do inverno, depois do qual, segundo a tradição, estará pronto para o consumo. Enquanto isso, é vigiado diariamente com atenciosa afeição, como a dirigida a uma criança em crescimento.

Mosto fermentado
Muita gente gosta de fazer seu próprio vinho, seguindo o método rústico dos primeiros imigrantes europeus. A maioria são pequenos agricultores que já tem na própria história o costume. Outros, vivendo nas cidades,  não possuem mais terras para cultivar, mas todo ano vão em busca de uvas maduras para fermentar, como para honrar um último elo com os terrunhos que perderam.


Paulo Serafim tirando vinho
Fazer um vinho caseiro não é tão complicado, mas dá muito trabalho. E por falta de cuidado, tudo pode ser perdido, virar vinagre. 
 Ainda assim, amadores e experimentados se lançam à essa  atividade todos os anos. O passo-a-passo é transmitido oralmente, de parceiro para parceiro. Não há receitas. As condições e os locais de elaboração são às vezes precários. Se o lugar for fresco, mais chance de bom resultado.

 Na esteira da tradição, as uvas procuradas geralmente são as tintas comuns, de preço acessível, as viti labruscas: a Isabel, que pode dar vinhos de cor vermelho vivo ou rosada, dependendo da maturação, em combinação com a Bordô, uma tintureira, que isoladamente não é apreciada pela alta concentração de pigmento. Na falta da Isabel, admite-se até fermentações de uma parcela de uvas brancas, como a Niágara, com a Bordô, para equilibrar a cor.

Os vinhos obtidos são de gosto foxado (um aroma e gosto forte que remete à própria uva in natura), estigmatizados pelo mundo vinícola, diante dos produtos obtidos por uvas de vitis européias. Mas é preciso lembrar que foi com o tipo colonial que a maioria dos consumidores brasileiros adquiriu o hábito do vinho. Na realidade, ainda é o mais consumido no país.

Beber o próprio vinho tem um significado quase sagrado. É como experimentar a satisfação da criação, a autonomia de extrair da natureza o próprio alimento. 

É um vinho "honesto", vinho "puro", justifica-se, “sem química”. Quando muito, açúcar na fermentação para elevar um pouco o grau alcoólico e sulfitos para evitar a degradação do mosto. O cuidado é não errar nas proporções: nem muito, nem pouco. Os vinhos podem resultar ácidos, ásperos ou leves e suaves. Serão bebidos, com satisfação.


4 de mar. de 2011

VINHOS DE UVAS RARAS NA FESTA NACIONAL DA VINDIMA




































A 12ª Festa Nacional da Vindima, que vai até o dia 13 de março, em Flores da Cunha, no Rio Grande do Sul, é a oportunidade de conhecer as realizações da cultura imigrante italiana, fincada há mais de 130 anos nas serras da região centro-nordeste gaúcho. Ali se destaca o aspecto mais marcante e que consagrou a herança da imigração: o cultivo de uvas e  elaboração de vinhos.

A exposição de uvas produzidas no município de Flores da Cunha é passagem obrigatória no pavilhão do parque onde se realiza a festa.






































 
 
Flores da Cunha orgulha-se de ser o maior produtor de vinhos do Brasil,
com 188  empresas vinícolas e de bebidas, tendo produzido 78 milhões de litros de vinho em 2010. Praticamente a metade desses produtores são cantinas familiares, segundo do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da região.


E é no estande de uma dessas vinícolas, a Casa Gilioli, do Travessão Lagoa Bela, interior de Flores da Cunha, que encontramos um vinho de mesa raro atualmente, produzido com a uva Herbemont, varietal americana (Vitis Bourquina), trazida da Europa pelos imigrantes no século XIX. Entre os colonos era conhecida com o nome de champagne ou borgonha.
 

A Herbemont foi uma uva bastante cultivada pelo seu alto poder agronômico. Até os anos 1950, era utilizada para elaborar espumantes, vinhos de mesa e vermutes de vinho, informa o enólogo Luiz Pedro Gilioli.

Começou a desaparecer progressivamente, por ser altamente suscetível à  fusariose, uma doença causada por fungos que resseca a parte aérea da planta, e para a qual ainda não foi encontrado um controle definitivo.


No vinhedo da vinícola ainda se conservam cerca de 200 plantas dessa variedade, cujas uvas  deverão render o suficiente para produzir cerca de 1.500 litros de vinho, na safra 2011, segundo estimativa do enólogo.


O Casa Gilioli Herbemont é um vinho seco, leve, de coloração rosé romã, aroma discreto, baixo teor alcóolico (10,8% vol.) e significativa acidez.

A Vinícola também produz outro vinho de mesa raro no mercado, o tinto da variedade híbrida Margot BRS, desenvolvida e lançada pela Embrapa em 2007, a partir de um cruzamento dos varietais Merlot e Villard Noir. Trata-se de um vinho de mesa com características de vínifera, cujos testes de validação agronômica e industrial foram feitos nos vinhedos da Gilioli, permitindo que a vinícola seja uma das primeiras a elaborá-lo de modo comercial.





Dentre as vinícolas pequenas, destaque para o estande dos Vinhos Hortência, da localidade de Mato Perso, cujo vinho Hortência Moscato Seco, ficou entre os 30 vinhos mais representativos da safra 2010 da Avaliação Nacional de Vinhos, realizada em setembro do ano passado.





Também encontramos no estande da  Adega Mascarello, o Don Bortolo Moscato Giallo, que recebeu medalha de ouro na categoria vinho branco seco aromático no Concurso Melhores Vinhos de Flores da Cunha 2009.




A apresentação do coral de Mato Perso, emocionou alguns casais, que aproveitaram o espaço do corredor entre os estandes para embalar-se ao som das antigas canções italianas...