A 18ª Avaliação Nacional de Vinhos Safra 2010, realizada em setembro em Bento Gonçalves, mostrou que, graças a um problema climático verificado no período de colheita, os vinhos elaborados no Rio Grande do Sul em 2010 estão menos alcoólicos. Para alguns comentaristas presentes ao evento, isso é um fato a ser saudado positivamente.
Os 16 vinhos mais representativos da safra 2010 foram revelados no evento,recebendo notas dos comentaristas brasileiros e estrangeiros convidados para avaliar e traduzir num escore os descritores relacionados ao aspecto, olfato e paladar.
Todo o processo foi acompanhado pelos mais de 750 participantes inscritos no evento, que também puderam degustar e dar nota aos vinhos.
A seleção de amostras apresentou graus alcólicos que variaram entre 12,5º e 13,7º (tintos) e entre 11º e 12º (brancos). Os comentaristas deram notas entre 84 e 93 (tintos) e entre 74 e 89 (brancos). As mais altas notas foram atribuídas a dois vinhos Cabernet Sauvignon,das vinícolas Almaunica (Vale dos Vinhedos, Bento Gonçalves) e Santo Emílio(Lajes/Urupema, em Santa Catarina.
Conforme estudo da Embrapa distribuído aos participantes do evento, a safra 2010 foi prejudicada pelo excesso de chuvas e dias nublados verificados nos meses de janeiro e fevereiro, que não favoreceram a plena maturação. A qualidade das uvas, então, dependeu do nível tecnológico empregado nos vinhedos - manejo, tratos culturais e decisão da época de colheita.
O jornalista/comentarista Artur Azevedo, da ABS-SP, mostrou-se agradavelmente surpreso com os menores graus alcóolicos dos vinhos, que resultaram em vinhos mais elegantes, na sua opinião, e de modo geral, representando menores riscos para a saúde.
Outro comentarista, Michel Whiteside, jornalista da Inglaterra, observou que "a tendência para o futuro é o consumo de vinhos mais leves, frescos e fáceis de beber" e que o Brasil está se posicionando muito bem nesse tipo de vinho.
Eduardo Russo, jornalista e publicitário que também participou como comentarista no painel, manifestou sua satisfação em encontrar nesta safra "vinhos com níveis de álcool tão sociáveis e tão elegantes". Russo ainda sugeriu para as próximas avaliações a criação de uma categoria vinhos de produtores artesanais, que utilizam leveduras indígenas na sua pequena produção,tais como Bettu, Daniele e Barichello.
Na mesma linha,o espanhol de Rioja, Luis Vicente Elias Pastor,especialista em cultura do vinho,exortou os produtores brasileiros a "fazer vinhos da terra, vinhos coerentes com a terra" e não tentar reproduzir padrões de outras regiões do mundo.
Coincidentemente, o professor Luis Antenor Rizzon, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa, um dos homenageados no evento, também lembrou que "o vinho é uma bebida distinta, que tem identidade com a cultura, o lugar, a história e a técnica de produção local". Portanto, acrescentou, "quando se vende vinho, está se vendendo a terra, o lugar, a gente", o que exige que "se busque a identidade, a tipicidade, por meio de definições enológicas para a região".
A edição 2010 da Avaliação Nacional de Vinhos, promovida pela Associação Brasileira de Enologia (ABE), teve a participação de 55 vinícolas, dos estados do Rio Grande do Sul (231 vinhos), Santa Catarina (13), Paraná (1), Bahia (3),São Paulo (2),Pernambuco (6) e Minas Gerais (4). Desse total foram selecionadas amostras de 30 empresas, donde saíram os 16 vinhos mais representativos da safra. A degustação de seleção das amostras foi realizada por 87 enólogos de todo o Brasil, em três grupos de 29 profissionais, no período de 16 de agosto a 3 de setembro.
VINHOS SELECIONADOS - SAFRA 2010
CATEGORIA | VARIEDADE | EMPRESA |
Vinho Base para Espumante | Chardonnay | Domno do Brasil (RS) |
Vinho Base para Espumante | Chardonnay/Pinot Noir | Salton (RS) |
Vinho Branco Seco Fino Não Aromático | Chenin Blanc | Vinícola Ouro Verde (Miolo Wine Group) (BA) |
Vinho Branco Seco Fino Não Aromático | Chenin Blanc | Vitivinícola Santa Maria (PE) |
Vinho Branco Seco Fino Não Aromático | Chardonnay | Coocenal / Aliança (RS) |
Vinho Branco Seco Fino Não Aromático | Chardonnay | Goes e Venturini (RS) |
Vinho Branco Seco Fino Aromático | Moscato Giallo | Casa Geraldo (MG) |
Vinho Branco Seco Fino Aromático | Moscato R2 | Perini (RS) |
Vinho Rosé Seco | Cabernet Sauvignon | Almadén (Miolo Wine Group) (RS) |
Vinto Tinto Seco Fino Jovem | Pinot Noir | Rasip (Miolo Wine Group) (RS) |
Vinto Tinto Seco Fino | Cabernet Franc | Piagentini (RS) |
Vinto Tinto Seco Fino | Cabernet Franc | Valmarino (RS) |
Vinto Tinto Seco Fino | Marselan | Dom Cândido (RS) |
Vinto Tinto Seco Fino | Merlot | Seival State (Miolo Wine Group) (RS) |
Vinto Tinto Seco Fino | Cabernet Sauvignon | Santo Emílio (SC) |
Vinto Tinto Seco Fino | Cabernet Sauvignon | Almaúnica (RS) |
Um comentário:
Apesar dos problemas com o clima, parece uma boa noticia que os vinhos estejam menos alcoolicos. E gostei dos posicionamentos em relação à identidade do vinho. Acho que é esse o caminho para o sucesso do Brasil nesse ramo.
Obrigada por compartilhar um pouco desse evento!
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