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René Pédebernade cuida do vinhedo (Crédito: Plaimont) |
O pequeno e
desconhecido povoado de Sarragachies, com apenas 268 habitantes,
situado entre a planície do vale do Adour e os montes pré-Pirineus,
no departamento de Gers, sudoeste francês, ganhou notoriedade nos últimos dias de junho.
É lá que se encontra um dos mais antigos vinhedos do mundo, com
cepas de idades entre 150 e 200 anos, que, pela sua importância
excepcional, foi inscrito como monumento histórico da região.
As vinhas estão numa
parcela de 20 ares (equivalente a 2 mil metros quadrados ou um quinto de um hectare) somando 600 pés, cultivados num sistema
ancestral há muito desaparecido: duas plantas juntas em cada ponto e
varietais mesclados entre si, em 12 linhas quadradas, de modo a permitir o trabalho de uma junta de bois nos dois
sentidos das fileiras. Calcula-se que tenham sido plantadas entre
1800 e 1810.
O vinhedo contém cepas
autóctones do século XIX, que sobreviveram à filoxera (praga que
destruiu os vinhedos europeus e de outros países). Foram
encontrados 20 varietais que eram tradicionais da região e outros
sete ainda não identificados.
Desde o final dos anos
70, a Plaimont Producteurs, um grupo de vinícolas associadas da região de
Saint Mont e adjacências, passou a apoiar a preservação dessa e de outras
parcelas com vinhedos antigos, interessada na manutenção do
patrimônio genético, considerado garantia da tipicidade e do futuro
das apelações de origem controlada (AOC) da região dos
pré-Pirineus, entre as quais, Madiran, St. Mont, e Pacherenc du Vic
Bulh.
AINDA EM PRODUÇÃO
O vinhedo, há oito
gerações nas mãos da mesma família, segue produzindo. A colheita, misturada com
a das demais parcelas de uvas convencionais da propriedade, é
entregue na Cave Cooperativa de Saint Mont. O agricultor René
Pédebernade, 85 anos, continua cuidando do vinhedo antigo, embora
quem administre os 12 hectares da propriedade seja o filho,
Jean-Pascal, 45 anos. “A avó de minha avó já dizia que eram
vinhas velhas”, afirmou René, referindo-se ao vinhedo, em
entrevista à agência France Presse.
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Duas plantas em cada ponto (Crédito: Plaimont) |
Jean Pascal vai
sugerir que a cooperativa faça um vinho especial com as uvas do
vinhedo antigo, para comemorar a classificação da parcela como
patrimônio histórico, embora reconheça que não será famoso, pela
heterogeneidade das cepas. Segundo ele, o vinhedo, de pés-francos,
sobreviveu à filoxera, em razão do solo muito arenoso, no qual a
larva do inseto predador não consegue se desenvolver.
Pesquisadores do
Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola francês (INRA) e do
Instituto Francês da Vinha e do Vinho (IFV) começaram as
observações no local a partir de 1984. Especialistas em
Ampelografia (estudo dos varietais), como Jean Michel Boursiquot,
Thierry. Lacombe, et Olivier Yobrégat, experts mundialmente
reconhecidos, estudam as videiras. Os sete varietais desconhecidos
foram batizados como Pédebernade 1, 2, ... 7, em homenagem ao
proprietário da terra.
Em outros vinhedos da
região, os pesquisadores encontraram variedades de uva também não
perfeitamente descritas, nominadas Dubosc 1 e 2, Arrat, Cauzette e
uma tipicamente lambrusca.No trabalho de
identificação, os pesquisadores usam como referência sete grupos
de varietais tradicionais do sudoeste francês, como Tannat, Courbu,
Cabernet Franc, Cmaraou Noir, Gros Manseng, Petit Verdot e Cruchen
Blanc. Até agora, verificaram que o Arrat não mostra semelhança
genética com nenhum varietal da região, restando sua origem um
mistério.
Baseados em análise de
DNA, os cientistas descrevem a região do vale do Adour como berço de varietais como o Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet
Franc, que se espalharam para outras regiões da França, ao longo do
tempo, e paraíso das lambruscas selvagens, que crescem apoiadas em
outras árvores.
A Plaimont Producteurs criou
em 2002 um viveiro de varietais da região de Saint Mont, reunindo
clones de 40 varietais diferentes. Até 2016, espera conseguir o
registro de clones de varietais como Tannat, Fer Servadu, Cabernet
Sauvignon e dos desconhecidos Dubosc 1 e 2.
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Região de atuação da Plaimont Producteurs, onde Sarragachies está situada (Crédito: Plaimont) |