22 de jul. de 2012

VINHEDO DE 200 ANOS É DECLARADO PATRIMÔNIO HISTÓRICO NA FRANÇA

René Pédebernade cuida do vinhedo (Crédito: Plaimont)
O pequeno e desconhecido povoado de Sarragachies, com apenas 268 habitantes, situado entre a planície do vale do Adour e os montes pré-Pirineus, no departamento de Gers,  sudoeste francês, ganhou notoriedade nos últimos dias de junho. É lá que se encontra um dos mais antigos vinhedos do mundo, com cepas de idades entre 150 e 200 anos, que, pela sua importância excepcional, foi inscrito como monumento histórico da região.

As vinhas estão numa parcela de 20 ares (equivalente a 2 mil metros quadrados ou um quinto de um hectare) somando 600 pés, cultivados num sistema ancestral há muito desaparecido: duas plantas juntas em cada ponto e varietais mesclados entre si, em 12 linhas quadradas, de modo a permitir o trabalho de uma junta de bois nos dois sentidos das fileiras. Calcula-se que tenham sido plantadas entre 1800 e 1810.

O vinhedo contém cepas autóctones do século XIX, que sobreviveram à filoxera (praga que destruiu os vinhedos europeus e de outros países). Foram encontrados 20 varietais que eram tradicionais da região e outros sete ainda não identificados.

Desde o final dos anos 70, a  Plaimont Producteurs, um grupo de vinícolas associadas da região de Saint Mont  e adjacências, passou a apoiar a preservação dessa e de outras parcelas com vinhedos antigos, interessada na manutenção do patrimônio genético, considerado garantia da tipicidade e do futuro das apelações de origem controlada (AOC) da região dos pré-Pirineus, entre as quais, Madiran, St. Mont, e Pacherenc du Vic Bulh.

AINDA EM PRODUÇÃO

O vinhedo, há oito gerações nas mãos da mesma família, segue produzindo. A colheita, misturada com a das demais parcelas de uvas convencionais da propriedade, é entregue na Cave Cooperativa de Saint Mont. O agricultor René Pédebernade, 85 anos, continua cuidando do vinhedo antigo, embora quem administre os 12 hectares da propriedade seja o filho, Jean-Pascal, 45 anos. “A avó de minha avó já dizia que eram vinhas velhas”, afirmou René, referindo-se ao vinhedo, em entrevista à agência France Presse.

Duas plantas em cada ponto (Crédito: Plaimont)
Jean Pascal vai sugerir que a cooperativa faça um vinho especial com as uvas do vinhedo antigo, para comemorar a classificação da parcela como patrimônio histórico, embora reconheça que não será famoso, pela heterogeneidade das cepas. Segundo ele, o vinhedo, de pés-francos, sobreviveu à filoxera, em razão do solo muito arenoso, no qual a larva do inseto predador não consegue se desenvolver.

Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola francês (INRA) e do Instituto Francês da Vinha e do Vinho (IFV) começaram as observações no local a partir de 1984. Especialistas em Ampelografia (estudo dos varietais), como Jean Michel Boursiquot, Thierry. Lacombe, et Olivier Yobrégat, experts mundialmente reconhecidos, estudam as videiras. Os sete varietais desconhecidos foram batizados como Pédebernade 1, 2, ... 7, em homenagem ao proprietário da terra.

Em outros vinhedos da região, os pesquisadores encontraram variedades de uva também não perfeitamente descritas, nominadas Dubosc 1 e 2, Arrat, Cauzette e uma tipicamente lambrusca.No trabalho de identificação, os pesquisadores usam como referência sete grupos de varietais tradicionais do sudoeste francês, como Tannat, Courbu, Cabernet Franc, Cmaraou Noir, Gros Manseng, Petit Verdot e Cruchen Blanc. Até agora, verificaram que o Arrat não mostra semelhança genética com nenhum varietal da região, restando sua origem um mistério.

Baseados em análise de DNA, os cientistas descrevem a região do vale do Adour como berço  de varietais como o Merlot, Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, que se espalharam para outras regiões da França, ao longo do tempo, e paraíso das lambruscas selvagens, que crescem apoiadas em outras árvores.

A Plaimont Producteurs criou em 2002 um viveiro de varietais da região de Saint Mont, reunindo clones de 40 varietais diferentes. Até 2016, espera conseguir o registro de clones de varietais como Tannat, Fer Servadu, Cabernet Sauvignon e dos desconhecidos Dubosc 1 e 2.
Região de atuação da Plaimont Producteurs, onde Sarragachies está situada (Crédito: Plaimont)

3 comentários:

Fernando Luiz disse...

Que raridade. Como a gente sempre se depara com surpresas no mundo do vinho!
Muito obrigado Arlete!

Helena disse...

Que mágico ver essas vinhas sobrevivendo a gerações e produzindo vinhos! Bela iniciativa essa de preservar esse patrimônio, essa história. Excellent article!

Anônimo disse...

Raridade mesmo. Cada vez descobrimos mais, desse mundão do vinho.
Excelente matéria parabéns !!!