
SOBRE A VENDA DE VINHOS PREMIUM NO VAREJO
Os negócios do vinho se intensificam sensivelmente no inverno, no Brasil. Indústria nacional e produtos estrangeiros disputam nesta estação
climática um mercado interno cada vez mais interessado na bebida.
Novos rótulos, promoções, jantares degustação, provas de vinhos
em eventos abertos ao público, novas lojas, tudo movimenta o setor.
É a época por excelência do vinho tinto, consumo estimulado
especialmente pelo frio, no sudeste e sul do país.
Nos supermercados de
Porto Alegre, desde o início do ano, a indústria nacional ampliou a
oferta de produtos nacionais na faixa de preço de R$26,00 a 34,00.
No mercado internacional de vinhos, garrafas nessa faixa de preço
(entre 13 a 17 dólares ao consumidor) correspondem a segmentos
médios/altos de preço e de atribuição de qualidade, chamados
Premium. Os preços adotados pelo setor nacional correspondiam aos de
uma já conhecida linha Reserva de importados (especialmente do Chile
e Argentina) dominante há mais tempo nas grandes redes de
distribuição (Casillero del Diablo, Santa Carolina, Santa
Helena, Tarapacá, Senetiner, Bianchi, etc).

Até maio, a indústria
nacional ia tocando as suas novidades com certa desenvoltura. No
entanto, entre junho e julho, as prateleiras do setor de vinhos em
uma tradicional rede regional de super e hipermercados voltadas às
classes médias-altas, coalharam-se de ofertas de rótulos argentinos
e chilenos a preços incrivelmente atraentes. Entre eles, os de uma
linha básica de varietais da tradicional e famosa Casa Silva, do
Chile, importada diretamente pelo estabelecimento, oferecida a
R$24,60 a garrafa.
De imediato, revelou-se
evidente a preferência dos consumidores aos estoques de
estrangeiros, até porque, de repente, os nacionais da mesma faixa
estavam mais caros. Alguns destes reagiram com baixas de R$1,00 a
R$2,00, mas um frenesi se instalou com a chegada do rótulo Nostro da
vinícola chilena Indomita, a incríveis R$15,90 o Gran Reserva e
R$14,90 o Reserva, um preço inusitadamente baixo para essas duas
categorias, levando em conta os requerimentos que a legislação
chilena faz em relação a elas.
OS PREMIUM NACIONAIS
Entre o final de 2012 e
o início de 2013, simultaneamente, duas das quatro maiores
indústrias de vinho brasileiro colocaram nos supermercados novos
produtos a preços entre R$26,00 a 34,00.
Pela Cooperativa
Vinícola Aurora renovou-se a linha “
Aurora Reserva”
(Chardonnay, Merlot, Cabernet Sauvignon, com passagem em barrica de
carvalho declarada no contrarrótulo, na faixa de R$27-28); e surgiu
a linha “
Aurora – Pinto Bandeira Indicação de Procedência”
(Pinot Noir e Chardonnay, cerca de R$33-34).
A Vinícola Salton,
lançou a linha “Salton Intenso Reserva Privada” (Cabernet
Sauvignon, Merlot e Viognier-Sauvignon Blanc, na faixa de R$28-29),
substituindo a linha Volpi, pelo menos nos supermercados.
Em 2012, a Vinícola
Perini introduziu o “Perini Fração Única” (Cabernet
Sauvignon, Merlot e Chardonnay, na faixa R$29-30). E há alguns anos,
a Vinícola Miolo, já oferecia o “Reserva Miolo”, na
faixa de R$26 – 27. Também há algum tempo, a Vinícola Boscato
vem comercializando o seu “Boscato Reserva” a R$28-30.
Outras produtoras, algumas de pequeno porte ou grandes, também
introduziram vinhos isolados, nessa faixa de preço ou até em
patamares mais elevados, como o Valduga Signature (R$34-35) e
Boscato 2007 (R$39-40).
CONCORRENTES DIRETOS
Nessa faixa de preços,
apareciam como concorrentes estrangeiros diretos Altos del Plata
( R$35-36); Trapiche Roble (R$35-36); Casillero del Diablo
Reserva (R$29);Viu Manent Reserva (R$37-38), Nieto
Senetiner Reserva (R$27-28); Latitud 33 (R$29-30); Septima
(R$30); Santa Helena Reserva (R$30), entre outros.
A competição
acirrou-se recentemente, pois os próprios supermercados
aumentaram a importação direta. Além disso, o consumidor viu-se diante de novas
opções de escolha. Às tradicionais marcas chilenas e argentinas
juntaram-se etiquetas norte-americanas, alemãs, francesas e
australianas - com preços semelhantes ou superiores à linha
nacional Premium.


A batalha dos
supermercados não é irrelevante. Atualmente 60% das vendas de vinho
nos maiores países consumidores ocorrem nos canais de venda
liderados por super e hipermercados, segundo uma pesquisa da agência
Wine Intelligence, revelada na Winexpo – a maior feira de vinhos do
mundo – encerrada em junho, na França. A pesquisa, citada pela
publicação britânica The Appointment mostra ainda queda no consumo
de vinho em bares e restaurantes, enquanto aumentam as vendas também
em lojas especializadas e na internet. Foram avaliadas as
tendências nos cinco maiores mercados de vinho do mundo (Estados
Unidos, Inglaterra, Alemanha, França e China) entre 2007-2011 e
indicadas as tendência para os próximos anos, até 2020.
SEGMENTAÇÃO DO MERCADO DE VINHOS
Desde 2002, o mercado internacional de vinhos -
norte-americano e continental europeu, especialmente - guia-se por
uma classificação de qualidade, cujo critério é o preço
atribuído à garrafa à venda no varejo.
Essa classificação,
resultante de um estudo da consultora Ernest e Young, difundida pelo
banco de fomento Rabobank International e adotada pela agência
norte-americana Wine Institute, estabeleceu patamares, em que o maior
volume de produção corresponde ao menor preço.
Segmento
|
Varejo €
|
ICONE
|
> 50
|
ULTRAPREMIUM
|
14-49
|
SUPERPREMIUM
|
8-13
|
PREMIUM
|
5-7
|
POPULAR PREMIUM
|
3-5
|
BÁSICO
|
<
3
|
Levando em conta essa
classificação, os vinhos nacionais na faixa de R$26 a R$34,
estariam posicionados no segmento de preços Superpremium
internacional. Resta saber se os vinhos brasileiros - no mercado
internacional - correspondem a essa mesma segmentação. A mesma
questão se aplica aos vinhos argentinos e chilenos aqui
comercializados. A escala do Rabobank tem sido adaptada regionalmente
com referência ao dólar e outras moedas.