E audacioso, esmagando o preconceito e o esnobismo de muitos técnicos e críticos nacionais, provou vinhos de uvas bordô e isabela, sem desaprovação, tendo preferido estes aos merlot e cabernet na janta em que participou, na Serra gaúcha.
Tudo isso é o que mostra a reportagem do jornal Semanário, de Bento Gonçalves, edição de 23.02.2011, que publicou as opiniões de Clarke, na visita que o crítico fez à Serra Gaúcha, à convite do Ibravin, de 14 a 18 de fevereiro. Um dos mais renomados articulistas do vinho da atualidade, Oz Clarke é britânico, autor de 22 livros, guias e enciclopédias de vinho, apresenta programas de televisão sobre vinhos na BBC e recebeu inúmeras premiações e condecorações internacionais pelo seu trabalho. Iniciou a carreira do vinho ganhando competições no tempo em que estudava na Universidade de Oxford e teve incursões pelo teatro e cinema anteriormente, antes de dedicar-se inteiramente ao vinho, desde 1984.
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Folder do último livro de Oz Clarke/ http://www.ozclarke.com |
Segue o trecho da entrevista, na forma como foi colhida pelo jornal Semanário: "Os seus espumantes Moscatos são impressionantemente bons, fantásticos. O método charmat, com o Pinot e Chardonnay, são melhores que qualquer outro do mundo. Vocês fazem Proseccos muito bons, e não é todo mundo que faz Prosecco. Vocês já acharam uma coisa que fazem brilhantemente bem e podem dizer com orgulho que são os melhores no mundo. A uva é a grande diferença. O sabor que vocês conseguem nessas uvas, como Pinot Noir e Chardonnay, são diferente das da região de champagne, mais balanceadas”.
Clarke exortou os gaúchos a prestar atenção às tendências mundiais em favor do vinho branco e de vinhos mais leves, de modo geral, e a buscar inspiração nas raízes imigrantes.
Assim falou ao jornal Semanário: “Existe um movimento, nos últimos 3 anos, em prol de um vinho mais claro e refrescante. A serra gaúcha é forte na produção de vinhos tintos muito agradáveis com graduação alcoólica entre 12 e 12.7. O Brasil pode amar Merlot no momento, beber Cabernet Sauvignon, mas o mundo está com estes tipos de vinho saindo pelos ouvidos. O Brasil precisa apostar em criatividade. Gostaria de ver vocês voltando a manter contato com as suas raízes, e descobrindo tipos de uva que foram esquecidos. A Itália é cheia de variedades de uva, inclusive as brancas, completamente deixadas de lado e os maiores produtores de uva dizem que o futuro do vinho na Itália é branco, não tinto”.
"Uvas e Vinhos, de 2008. |
“Às vezes, me parece que falta um pouco de imaginação. Se vocês quiserem pensar no futuro, têm que ser criativos e ver o que o resto do mundo está fazendo. Estão buscando inspiração em lugares atrasados, olhando para trás e fazendo vinhos como se fazia no norte da Itália há 10 ou 15 anos atrás, muito correto, mas faltando algo a mais, que poderia ser a cara do Brasil. Não sabemos o que o Brasil pode fazer, ainda, e eu acho que, para os maiores vinhos que poderiam ser feitos na serra, vocês ainda não começaram a plantar as variedades certas de uva. Experimentei Niagara e achei absolutamente deliciosa. Alguns dos vinhos mais agradáveis que eu bebi aqui foram feitos com uva Bordô e Isabela. A primeira garrafa que ficou vazia em cima da mesa, durante a janta, não foi o Cabernet, ou o Merlot, mas a o vinho da Isabela”.
(Estranhamente, a mídia, só festejou as opiniões favoráveis de Oz Clarke e de outros jornalistas estrangeiros presentes na visita à Serra Gaúcha, aos espumantes brasileiros. Quanto ao resto, branco...).