13 de jul. de 2013

A BATALHA DO VINHO NOS SUPERMERCADOS

SOBRE A VENDA DE VINHOS PREMIUM NO VAREJO
 
Os negócios do vinho se intensificam sensivelmente no inverno, no Brasil. Indústria nacional e produtos estrangeiros disputam nesta estação climática um mercado interno cada vez mais interessado na bebida. Novos rótulos, promoções, jantares degustação, provas de vinhos em eventos abertos ao público, novas lojas, tudo movimenta o setor. É a época por excelência do vinho tinto, consumo estimulado especialmente pelo frio, no sudeste e sul do país.

Nos supermercados de Porto Alegre, desde o início do ano, a indústria nacional ampliou a oferta de produtos nacionais na faixa de preço de R$26,00 a 34,00. No mercado internacional de vinhos, garrafas nessa faixa de preço (entre 13 a 17 dólares ao consumidor) correspondem a segmentos médios/altos de preço e de atribuição de qualidade, chamados Premium. Os preços adotados pelo setor nacional correspondiam aos de uma já conhecida linha Reserva de importados (especialmente do Chile e Argentina) dominante há mais tempo nas grandes redes de distribuição (Casillero del Diablo, Santa Carolina, Santa Helena, Tarapacá, Senetiner, Bianchi, etc). 

Até maio, a indústria nacional ia tocando as suas novidades com certa desenvoltura. No entanto, entre junho e julho, as prateleiras do setor de vinhos em uma tradicional rede regional de super e hipermercados voltadas às classes médias-altas, coalharam-se de ofertas de rótulos argentinos e chilenos a preços incrivelmente atraentes. Entre eles, os de uma linha básica de varietais da tradicional e famosa Casa Silva, do Chile, importada diretamente pelo estabelecimento, oferecida a R$24,60 a garrafa.

De imediato, revelou-se evidente a preferência dos consumidores aos estoques de estrangeiros, até porque, de repente, os nacionais da mesma faixa estavam mais caros. Alguns destes reagiram com baixas de R$1,00 a R$2,00, mas um frenesi se instalou com a chegada do rótulo Nostro da vinícola chilena Indomita, a incríveis R$15,90 o Gran Reserva e R$14,90 o Reserva, um preço inusitadamente baixo para essas duas categorias, levando em conta os requerimentos que a legislação chilena faz em relação a elas.

OS PREMIUM NACIONAIS

Entre o final de 2012 e o início de 2013, simultaneamente, duas das quatro maiores indústrias de vinho brasileiro colocaram nos supermercados novos produtos a preços entre R$26,00 a 34,00.


Pela Cooperativa Vinícola Aurora renovou-se a linha “Aurora Reserva” (Chardonnay, Merlot, Cabernet Sauvignon, com passagem em barrica de carvalho declarada no contrarrótulo, na faixa de R$27-28); e surgiu a linha “Aurora – Pinto Bandeira Indicação de Procedência” (Pinot Noir e Chardonnay, cerca de R$33-34).

A Vinícola Salton, lançou a linha “Salton Intenso Reserva Privada” (Cabernet Sauvignon, Merlot e Viognier-Sauvignon Blanc, na faixa de R$28-29), substituindo a linha Volpi, pelo menos nos supermercados.


Em 2012, a Vinícola Perini introduziu o “Perini Fração Única” (Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay, na faixa R$29-30). E há alguns anos, a Vinícola Miolo, já oferecia o “Reserva Miolo”, na faixa de R$26 – 27. Também há algum tempo, a Vinícola Boscato vem comercializando o seu “Boscato Reserva” a R$28-30. Outras produtoras, algumas de pequeno porte ou grandes, também introduziram vinhos isolados, nessa faixa de preço ou até em patamares mais elevados, como o Valduga Signature (R$34-35) e Boscato 2007 (R$39-40).

CONCORRENTES DIRETOS

Nessa faixa de preços, apareciam como concorrentes estrangeiros diretos Altos del Plata ( R$35-36); Trapiche Roble (R$35-36); Casillero del Diablo Reserva (R$29);Viu Manent Reserva (R$37-38), Nieto Senetiner Reserva (R$27-28); Latitud 33 (R$29-30); Septima (R$30); Santa Helena Reserva (R$30), entre outros.

A competição acirrou-se recentemente, pois os próprios supermercados aumentaram a importação direta. Além disso, o consumidor viu-se diante de novas opções de escolha. Às tradicionais marcas chilenas e argentinas juntaram-se etiquetas norte-americanas, alemãs, francesas e australianas - com preços semelhantes ou superiores à linha nacional Premium.


A batalha dos supermercados não é irrelevante. Atualmente 60% das vendas de vinho nos maiores países consumidores ocorrem nos canais de venda liderados por super e hipermercados, segundo uma pesquisa da agência Wine Intelligence, revelada na Winexpo – a maior feira de vinhos do mundo – encerrada em junho, na França. A pesquisa, citada pela publicação britânica The Appointment mostra ainda queda no consumo de vinho em bares e restaurantes, enquanto aumentam as vendas também em lojas especializadas e na internet. Foram avaliadas as tendências nos cinco maiores mercados de vinho do mundo (Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, França e China) entre 2007-2011 e indicadas as tendência para os próximos anos, até 2020.

SEGMENTAÇÃO DO MERCADO DE VINHOS

Desde 2002, o mercado internacional de vinhos - norte-americano e continental europeu, especialmente - guia-se por uma classificação de qualidade, cujo critério é o preço atribuído à garrafa à venda no varejo.
Essa classificação, resultante de um estudo da consultora Ernest e Young, difundida pelo banco de fomento Rabobank International e adotada pela agência norte-americana Wine Institute, estabeleceu patamares, em que o maior volume de produção corresponde ao menor preço.
Segmento
Varejo
ICONE
> 50
ULTRAPREMIUM
14-49
SUPERPREMIUM
8-13
PREMIUM
5-7
POPULAR PREMIUM
3-5
BÁSICO
< 3
Levando em conta essa classificação, os vinhos nacionais na faixa de R$26 a R$34, estariam posicionados no segmento de preços Superpremium internacional. Resta saber se os vinhos brasileiros - no mercado internacional - correspondem a essa mesma segmentação. A mesma questão se aplica aos vinhos argentinos e chilenos aqui comercializados. A escala do Rabobank tem sido adaptada regionalmente com referência ao dólar e outras moedas.

3 comentários:

mauricio disse...

ótima matéria. um bom resumo da situação.

mauricio disse...

ótima matéria. bom resumo da situação.

Helena disse...

Excelente análise, muito informativa! Mas fico na dúvida: os vinhos nacionais têm a mesma qualidade que os chilenos e argentinos importados? Porque se a qualidade é semelhante, acho justo o preço ser semelhante também. Muita gente acha que os importados são melhores, então, acabam preferindo esses...
Um abraço!